quarta-feira, 11 de abril de 2012

My Heart Will Go On


(o titulo do texto é minha pequena homenagem ao filme Titanic)

_Alô, gostaria de começar perguntando como está mais não tenho muito tempo desde o meu ultimo trem, que a qualquer momento chegará. Perdoe-me estar mais uma vez lhe implorando por algo que já se foi, e nada mais é do que lembrança amarga de um passado que não gosto de citar. Mas, meu coração é um completo idiota, ele insiste talvez mais do que qualquer coisa nesse mundo, em dizer que está aqui, que continua aqui. Minha vida tem sido um fardo. Nada de interessante, nenhum sentimento gostoso, nenhum amor que me faça tremer nas bases, nem um egoísmo que me faça ter pena de mim mesma. Está aquela mesmice desde que você se foi, e já faz tempo. Muito tempo. Nem me lembro mais do seu sorriso, o que é uma pena, eu o achava maravilhoso.
Mas, não é para isso que estou gastando meus últimos centavos de impulso nessa ligação. Tive noticias suas... Da sua felicidade instantânea que me faz ter ânsias de vômitos todo o tempo em que me martírio lembrando; Soube que está feliz mais do que naquele tempo em que eu estava ao seu lado. Lembro-me vagamente do dia, oito de janeiro de alguns anos atrás, por nossas inúmeras conversas no telefone fazíamos planos sem ao menos nos conhecer. Tínhamos vontade de concretizá-los por que éramos tão jovens. Gostaríamos de começar já, e começamos! Talvez tenhamos começado cedo demais. Precipitar as coisas é bem típico de mim, que consequentemente odeio esperar pra tomar qualquer atitude... Nunca pensei que aqueles dias pudessem congelar meu coração, parar o meu relógio, rasgar meus calendários, é claro que você sabe a quês dias estou me referindo não é? Posso relembrá-lo se for o caso, refiro-me tão vagamente e sem rancor algum, aos dias em que você me deixou. Foram tantos que nem sei como consegui fazer esse órgão estúpido voltar a bater tão depressa.
Não quero que fale nada, nunca quis. Ouvir algo decepcionante de você não foi minha intenção ao telefonar. Escute-me apenas, me sentirei demasiadamente satisfeita com tal feito. Eu senti tanto a sua falta! Cada dia sem você, sem sua humilde presença, ou aquela gargalhada irônica que só você sabia dar, era uma loucura, uma verdadeira sentença à morte. Algo que só eu, e apenas eu, sei o que é. Ver seu ultimo fio de esperança ir embora à correnteza e não poder fazer NADA, nem se quer acender uma vela aquele tal santo milagreiro, namoradeiro, das causas impossíveis. Esvaziava-me de tanto chorar ao perceber que havia um tudo dentro de mim que se perdia a cada noitada, e pior ainda era perceber que ele estava sendo feliz à sua maneira.
Nunca acreditei quando me dizia que um dia eu iria estragar aquilo que tínhamos. E você sabe, eu sou libriana, teimosa, mandona, ignorante, mal criada, sem papas da língua e conversadeira. Pensei que fosse me deixar por qualquer um desses motivos, menos por eu ser boa demais. Achei que bondade era um ponto positivo, sempre que fazia a tremenda burrada de te perdoar pensava “ponto pra mim, eba!”, quando na verdade eu só te perdia um pouquinho mais. Nós mulheres somos tão ingênuas, temos a mera ilusão de que ser boazinha demais salva qualquer relacionamento, que mentira, o que salva um relacionamento não são quantas vezes você vai perdoar o mesmo erro infantil e idiota, mas sim, sua maneira sutil, bem feminina e sexy de punir. Acredito hoje, com idade mais avançada, com mais entendimento da vida, sabedoria e muito mais madura, que faltaram muitas coisas para nós sermos realmente felizes juntos. O cruel é saber que quem errou, vacilou e botou a mão no fogo sempre, fui eu! Eu acreditei até o ultimo minuto. Nunca pedi nada em troca, nem mesmo o mais obvio de tudo, o seu amor.
Errei também ao dar a você um tudo de mim que nem eu mesma conhecia. Um melhor em mim, que eu não sabia que existia. Um amor que eu não sabia que era capaz de sentir, e logo pela pessoa errada.
Gosto de você, mas não gosto de sofrer por você, nunca gostei. Sofrer é tão amargo, e arde no final. É ruim, acredite! Outro dia peguei o elevador do prédio e encontrei aquele bloquinho de recados que a gente deixou perto do lustre, ele estava lá, intacto... Um pouco maltratado pelo tempo e teias de aranha, nada que eu não pudesse resolver com um espanador. Encontrei aquelas mensagens que a gente deixava um pro outro escondido dos meus pais, achei muito engraçada uma em que eu sentia ciúmes de uma garota gorda, branca e feia. Tão infantil meus argumentos para te impressionar, ou fazer você mudar de idéia. Nunca me acostumei a ter que te dividir com ninguém. E aquela tal garota do recado, hoje é um mulherão e bem mais nova do que eu. E pra variar encontrei com ela outro dia e ela me disse que havia se encontrado contigo há uns meses atrás. Pensei cabisbaixa e com um leve sorriso no canto da boca “Você não muda mesmo ein?”
Eu sei, você vai chegar em casa e ver esse tanto de mensagem na secretaria eletrônica e pensar: “Alguém morreu!”, conheço bem seu tipo, quem sabe até pense: “Minha mãe me ama mesmo...” Até que finalmente escute e saiba que sou eu. E talvez quando escutar minha voz irá apagar todas, uma por uma, sem ao menos ter a curiosidade de me ouvir depois de tantos anos. Nunca fez diferença pra ti, não é agora que ira fazer não é? Mas espero que você esteja cheio de calos nos dedos e não consiga apaga-las, e que esteja desocupado, sem o que fazer, e com paciência para escutar cada uma delas.
Pois bem, vou terminar antes que eu perca meu destino e que você perca a paciência. Às vezes eu sinto sua falta. Falta de conversar com você sobre absolutamente nada e morrer de rir. Sinto falta de você me mandando mensagem de madrugada perguntando se eu tava dormindo, e muitas vezes eu só respondia ao amanhecer, o que consequentemente significava que você acertou, eu estava dormindo. Sinto saudade do seu cheiro de kaiak de pobre, e que eu morria de vontade de cheirar no fim do dia. Sempre acho que me falta algo no dia a dia, tipo aquele cafuné que só você sabia fazer, ou a massagem nas mãos que eu adorava até mesmo aquele abraço por trás que me deixava desconfortável quando eu estava enciumada. Sinto falta da sua voz ao dizer meu nome. Sinto falta de nossas ligações altas horas da madrugada, e principalmente de quando você me olhava com aquela carinha de cão abandonado e perguntava: “Você me ama não é?”. Como se eu não fosse dizer que sim, que te amava, que era louca por você, que mudaria o mundo por você, que seria capaz de tudo por você... Como se existisse alguma possibilidade, por menor que fosse de você ouvir um não.
Quando você me deixou achei que eu fosse morrer. Como naquele tempo, da cólera, em que se morria por amor, lembra? Porque pensei que a pior conseqüência do desamor seria a morte. Eu estava errada, a pior conseqüência do desamor, depois da ignorância e da indiferença, é viver! Porque morrendo, acabou não existe mais amor, rancor, medo ou dor, mas vivendo... Vivendo agente sofre dia após dia, como se fosse arrancando com um alicate cada pedaço moído do que restou do coração.
Soube que você anda bem, que está feliz, e encontrou alguém para amar... Tomara que dessa vez seu amor seja de verdade, tomara.

Por: Maria Fernanda Sollero Gomes